sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Carta mensal do Pe. Beraldo


Carta do mês de agosto de 2012
Carta MCC Brasil – AGO 2012 (156ª.)

“Desceu, então, uma nuvem, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado”. escutai-o!...(Cs Mc 9,5.7) “Levantai-vos, não tenhais medo” (Mt 17,7).
“Pois não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua grandeza. efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez a ouvir aquela voz que dizia: “Este é o meu Filho bem-amado, no qual está om meu agrado”. Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele na montanha santa” (2PD 1,16 -17).


Irmãos e irmãs, lavados pelo sangue redentor do Senhor Jesus e com Ele transfigurados à sua imagem: esteja com vocês a luz fulgurante da graça divina!

Acompanhando as celebrações litúrgicas deste mês de agosto, podemos mergulhar em nossa reflexão num dos momentos mais significativos para a nossa fé no Filho de Deus: a transfiguração de Jesus no Monte Tabor (dia 6). E, é claro, ainda que somente numa breve referência por ser limitado este nosso espaço, lembrar a festividade da Assunção de Nossa Senhora (dia 15; neste ano, na Igreja no Brasil, transferida para o domingo seguinte, dia 19).

1. Escutar Jesus

a) Escutar apenas Jesus no seu coração, na sua vida. Os ruídos externos, as vozes que vêm de fora, os rumores da publicidade através dos modernos e ousados meios de comunicação, as nossas “necessidades necessárias”, enfim, as seduções quase irresistíveis do consumismo e do prazer, tudo isso vai criando como que uma muralha entre a Palavra – Jesus – e o coração de quem a ouve. Assim, de tal modo somos envolvidos, que nem sempre conseguimos escutá-la. A mente humana torna-se uma verdadeira caixa de ressonância que nos impede de “escutar” tudo o que Jesus tenta nos comunicar. Pois “escutar” é muito mais penetrante do que, simplesmente “ouvir”. O “ouvir” é transitório ou, como se costuma dizer, é quando a palavra ‘entra por um ouvido e sai pelo outro’. O “escutar” percorre o caminho mais longo que, entrando primeiro no ouvido, em seguida vai á mente e, depois, chega ao coração. Os ouvidos ouvem a Palavra, a mente a escuta e o coração aberto a recebe e assimila na vida. É ali, nas profundezas daquele órgão que simboliza a vida, que experimentamos a emoção da Palavra. Emoção que, de volta à mente, deve levar a uma opção de vida. De forma que a Palavra, entrando e transformando a vida de quem a escuta, impele a descer do Tabor do enlevo, do Tabor da admiração, do Tabor da mera contemplação sem a ação evangelizadora ou do Tabor da acomodação à pura e ruinosa rotina... Para voltar ao chão do dia a dia, transfigurado pela Palavra e com a Palavra. Do mesmo modo que a Pedro, privilegiado expectador de Jesus transfigurado, também a nós pode assaltar-nos a tentação de armar tendas: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias” (Mt 17,4). Com uma agravante para nós: talvez, até, propuséssemos armar uma “tenda pessoal”, ao contrário de Pedro que, desinteressadamente, esqueceu-se de si mesmo e dos companheiros...

Agora, meu irmão, minha irmã, uma pergunta que não quer calar: você “ouve” somente, ou “escuta” a Palavra daquele que é o Filho muito amado do Pai? Se a escuta, você tem a coragem de descer do seu Tabor e tenta colocá-la em prática na solidariedade, na compreensão, na verdadeira amizade fraterna, no perdão, etc.? Ou deixa-se envolver por outras palavras barulhentas que agridem seus ouvidos entrando na sua mente e, até, no seu coração e que, portanto, acaba determinando sua maneira de pensar – sua mentalidade – e orientando o rumo de sua vida? Aliás, são palavras ou ruídos que podemos identificar, segundo São Pedro, como “fábulas inventadas”: “Pois não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua grandeza”.

b) “Levantai-vos, não tenhais medo”. Será que também nós temos medo de escutar somente Jesus? Com muita razão, um bastante respeitado teólogo moderno, o espanhol José Antônio Pagola, num excelente texto sobre a Transfiguração de Jesus, afirma que devemos “escutar apenas Jesus”: “Também a nós, cristãos de hoje, nos mete medo escutar somente Jesus. Não ousamos colocá-lo no centro das nossas vidas e comunidades. Não lhe deixamos ser a única e definitiva Palavra. É o próprio Jesus quem nos pode libertar de tantos medos, covardias e ambiguidades se nos deixarmos transformar por Ele” [1]. De fato, por experimentá-los em nossa própria carne, cada um de nós sabe de que medo da escuta da Palavra é possuído. Eu diria, melhor, até dominado ou escravizado por eles. Há, portanto, medos pessoais: medo da escutar a Palavra para não nos comprometermos com ela; medo de sair dos nossos comodismos; medo de renunciar aos nossos insaciáveis desejos do ter e do poder; medo de ser solidários; medo de ser julgados como ignorantes do que seja “levar vantagem em tudo”; medo, enfim, da prática do “sermão da montanha”, isto é, da prática das bem-aventuranças (Cf. MT 5,1-11). Parece que só não temos medo de erguer nossa tenda no Monte Tabor!

E há os medos, digamos, “genéricos”. Entre esses medos, aproveito para partilhar com meus queridos leitores, alguns medos citados pelo mesmo Pagola[2] e que são próprios dos que – como nós, Igreja que somos – querem ser evangelizadores: a) o medo do novo, do desconhecido e da nova cultura que estão vindos por aí. Mesmo no trabalho da missão prefere-se o que o Documento de Aparecida chama de “uma pastoral de mera conservação” (Dap 370). Pagola acrescenta: “No entanto, não é menos verdade que o que move a Igreja nestes tempos não é tanto um espírito de renovação, mas antes um instinto de conservação”; b) o medo de “assumir tensões e conflitos que traz consigo o procurar a fidelidade ao Evangelho. Calamo-nos quando devíamos falar; inibimo-nos quando devíamos intervir... preferimos a adesão rotineira que não traz problemas nem indispõe a hierarquia”; c) o medo de “antepor a misericórdia acima de tudo, esquecendo que a Igreja não recebeu o ‘ministério do juízo e da condenação’ mas sim, o ‘ministério da reconciliação’. Há medo de acolher os pecadores como Jesus fazia. Dificilmente se dirá hoje da Igreja que é ‘amiga dos pecadores’, como se dizia do seu Mestre”. E termina Pagola o elenco de alguns medos, com a reação dos discípulos e a intervenção de Jesus: “Segundo o relato evangélico, os discípulos caem por terra ‘muito assustados’ ao ouvir uma voz que lhes diz: ‘Este é o meu Filho muito amado... Escutai-o’. Mete medo escutar apenas Jesus. É o próprio Jesus que se aproxima, toca-lhes e diz-lhes: ‘Levantai-vos e não tenhais medo’. Só o contato com Jesus nos podia libertar de tanto medo”.
A Transfiguração de Jesus revela-nos a nossa própria transfiguração em filhos e filhas de Deus; de filhos e filhas de Deus em discípulos do seu Filho muito amado; de discípulos apaixonados em missionários sem medo e ardorosos e, consequentemente, alimenta a nossa esperança em “‘novos céus e nova terra’, nos quais habitará a justiça” (2PD 3,13; AP 21, 1-4).

2. Maria assunta aos céus. Não podíamos deixar de lembrar aqui a celebração da Assunção de Maria aos céus. Aquela Maria que, ao anúncio do anjo, teve receio de ser a mãe da Palavra, mas que, cheia de divina coragem, não teve medo do que poderiam dizer seus vizinhos e parentes diante de sua gravidez; alegre, visitou e serviu sua prima Isabel e “esteve com ela três meses” (Cf. LC 1,56); fortalecida, acompanhou, passo a passo, o seu Filho pelos caminhos desafiadores de sua missão de anunciar o Reino; mais corajosa ainda, com Ele percorreu a Via Sacra e, aos pés da cruz, nos recebeu a todos nós como filhos e filhas.

Intercessão. Ó Maria assunta aos céus, livra-nos de todos os medos, infunde-nos coragem e ânimo nesta nossa peregrinação terrestre rumo ao Reino definitivo, auxiliando-nos, pela constante conversão, a nos transfigurar à imagem do seu próprio Filho e alimentando a nossa esperança na futura ressurreição. Amém!

Meu abraço fraterno para todos os queridos “transfigurados” na luz do Senhor Jesus!

 

PE.José Gilberto Beraldo
II Assessor eclesiástico Nacional Adjunto

 
 
 

Agosto, mês vocacional.


Agosto, mês das vocações
Por: Dom Fernando Mason
Bispo Diocesano de Piracicaba

Para alguns, agosto é um mês de que se cuidar, pois ele seria nefasto... Mas para os participantes assíduos da comunidade católica, agosto, além de ser um mês abençoado como todos os demais, é desde 1981 o mês vocacional.

Por que tamanha importância dada ao tema vocação? Porque a vocação é o início de tudo. Quando ouvimos ou usamos a palavra vocação, logo a entendemos num sentido bastante vago e geral, como sendo uma inclinação, um talento, uma qualidade que determina uma pessoa para uma determinada profissão, por exemplo, vocação de pedreiro, de mãe, de médico.

E nessa compreensão também a vocação de sacerdote, de esposos, de leigos cristãos. Essa compreensão, porém, não ajuda muito no bom entendimento do que seja vocação quando nós, na Igreja, usamos essa palavra.

Vocação, em sentido mais preciso, é um chamamento, uma convocação vinda direta-mente sobre mim, endereçada à minha pessoa, a partir da pessoa de Jesus Cristo, convocando-me a uma ligação toda própria e única com Ele, a segui-lo, (cf. Mc 2,14). Vocação, portanto, significa que anterior a nós há um chamado, uma escolha pessoal que vem de Jesus Cristo, a quem seguimos com total empenho, como afirma São Paulo na Carta aos Romanos: "Eu, Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação, escolhido para o Evangelho de Deus." (Rom 1, 1)

Vocação é chamado e resposta. É uma semente divina ligada a um sim humano. Nem a percepção do chamado, nem a resposta a ele são tão fáceis e tão "naturais". Exigem afinação ao divino e elaboração de si mesmo, sem as quais não há vocação verdadeira e real.

Essa escolha pessoal, de amor, é concretizada de uma forma bem objetiva no Sacramento do Batismo, que por isso se torna fundamento e fonte de todas as vocações. É neste chão fértil, carregado de húmus divino, regado pelo sangue de Jesus, que brotam as vocações específicas, aquelas que cabem diferentemente a cada um. Algumas delas são mais usuais e comuns, como a de casal cristão, de leigo cristão, de catequista, de animador da caridade na comunidade.

Outras são definidas pela Igreja como vocações de "singular consagração a Deus", por serem menos usuais, mas igualmente exigentes e mais radicais no processo de seguimento de Jesus: são as vocações de sacerdote, de diácono, de religioso, de religiosa.

As vocações mais usuais são cultivadas em nossas comunidades eclesiais. As de "singular consagração a Deus" são cultivadas em comunidades eclesiais especiais, como nossos seminários.

O mês vocacional quer nos chamar à reflexão para a importância da nossa vocação, descobrindo nosso papel e nosso compromisso com a Igreja e a sociedade. Reflexão que deve nos levar à ação, vivenciando no dia-a-dia o chamado que o Pai nos faz. Que a celebração do mês vocacional nos traga as bênçãos do Pai para vivermos a nossa vocação sacerdotal, diaconal, religiosa ou leiga. Todas elas são importantes e indispensáveis. Todas elas levam à perfeição da caridade, que é a essência da vocação universal à santidade.

E no domingo de agosto, quando refletimos sobre a vocação leiga, somos convidados a homenagear nossos catequistas, aquelas pessoas que, num testemunho de fé e generosidade, dedicam-se ao sublime ministério de transmitir as verdades divinas a nossas crianças, adolescentes e jovens.

Oremos pelas vocações Sacerdotais

                                                    ...ninguém nasce Padre...