sábado, 13 de outubro de 2012

Ano da Fé

Ano da Fé

“A Porta da Fé que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós”.
No dia 11 de outubro de 2012, junto à comemoração do cinquentenário do Concílio Vaticano II e dos vinte anos de Catecismo da Igreja Católica, tem início o Ano da Fé. “Convite para uma autentica e renovada conversão ao Senhor”, conforme definiu o Papa Bento XVI, o Ano da Fé convoca os católicos a estreitarem suas relações com Cristo e intensificarem o testemunho da caridade.
A convite da Revista Ave Maria, Dom Roberto Ferreria Paz, bispo de Campos (RJ), mostra os caminhos para a vivência da fé no dia a dia e Ângela Cabrera analisa a presença e o significado da fé nos livros bíblicos.
Um caminho a percorrer
Por Dom Roberto Francisco Ferreria da Paz
Com a Carta Apostólica Porta Fidei, o Papa Bento XVI gloriosamente reinante, anunciou a abertura do Ano da Fé no dia 11 de outubro de 2012, que culminará na Festa de Cristo Rei, no dia 24 de novembro de 2013.
Essa mesma celebração de um ano dedicado à fé aconteceu em ocasião do 19º centenário dos apóstolos Pedro e Paulo, em 1967, sendo convocada pelo Papa Paulo VI e aprovada uma profissão de fé, atual e consubstanciada com a reflexão teológica do Concílio Vaticano II.
Estamos há 50 anos da abertura desse evento, que foi uma “verdadeira primavera da nossa Igreja”: uma transformação de suas estruturas, de sua mentalidade e forma de se relacionar com o mundo. Este novo Ano da Fé possibilitará refazer o itinerário que brota do Batismo e só é consumado na nossa morte terrestre, entrando definitivamente na vida eterna.
O atual Ano da Fé é um caminho para retomar o ato da fé em sua integralidade, que supõe o consentimento da razão, da vontade e que tem início no coração. Essa mesma fé deve ser confessada e testemunhada publicamente; a fé que o Concílio Vaticano II definiu como “viva, explícita e operosa”, deve ser cada vez mais fundamentada no conhecimento profundo da Palavra. Fé que anseia compreender e entender melhor, articulando um discurso sistemático sobre Deus e a pessoa humana, a criação e a salvação e, finalmente, o destino eterno.
A fé é uma virtude teologal que exige ser celebrada e alimentada, mas também vivenciada no dia a dia, confrontando os desafios do cristão inserido numa cultura relativista e certamente difusa e pluralista.
Antes podíamos supor a fé dos cristãos: hoje, a iniciação cristã passa a ser a principal urgência, pois não basta recebermos o Batismo se não formos introduzidos numa educação progressiva, gradual e permanente da fé. A fé deve ser partilhada e dialogada, porque a comunicação e a linguagem são fundamentais para alcançar o homem a mulher contemporâneos.
Nossa fé deve impulsionar o ecumenismo e a unidade dos cristãos, o diálogo e o entendimento entre as religiões, focalizando a defesa da vida e da integridade do planeta, a manutenção da paz e o serviço amoroso aos pobres, afirmando a dignidade da pessoa humana. Ele deve ser um caminho que ofereça alternativas à globalização perversa e excludente, promovendo um compromisso social em torno do trabalho decente, a inclusão de todos os povos e nações em prol de um desenvolvimento integral, solidário e sustentável. Isso nos levará certamente a aprofundar o vínculo profundo com a caridade.
Madre Teresa de Calcutá sempre dizia: “a caridade é a fé em ação, e o serviço é a caridade em ação”. Uma fé sem obras é uma fé morta, como nos exorta o Apóstolo Tiago (Tg 2,14-18). A fé verifica-se na prática cristã do seguimento de Cristo, que passa pela opção preferencial pelos pobres. Esse processo precisa ser enraizado nas culturas, humanizando-as e levando a sua plenitude em Cristo.
Uma fé que não se torna cultura corre o risco de definhar e se perder, ensinou o Beato João Paulo II.
O teologo João Luis Segundo, em seu grande legado que formou cristãos adultos e responsáveis, sempre considerava que o fiel cristão contribuía com as outras pessoas com serviço de sua fé, para juntos buscarem soluções plenamente humanas para todos.
Que Nossa Senhora, a grande peregrina da fé, que viveu como perfeita discípula do Senhor e Mãe dos missionários, nos ensine a caminhar ao encontro do seu Filho. Que ela nos ajude a percorrer com confiança, alegria e renovado compromisso todas as etapas da fé, de Nazaré ao Calvário, chegando à gloriosa Ressurreição.
Que o Divino Espírito Santo, que guiou Maria e a Igreja, que foi o vento impetuoso no Novo Pentecostes do Concílio Vaticano II, nos confirme na fé, e nos ajude não só a guardá-la, mas manifestá-la com empenho e ardor.
Calendário do Ano da Fé
  • 6 de outubro de 2012: Encontro Pátio dos Gentios em Assis, Itália, com o tema “Deus, esse desconhecido”.
  • 7 a 28 de outubro de 2012: Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre “Nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.
  • 11 de outubro de 2012: Abertura do Ano da Fé na Praça São Pedro.
  • 21 de outubro de 2012: Canonização de seis mártires e testemunhas da fé.
  • 25 e 26 de fevereiro de 2013: Congresso Internacional em Roma, sobre o tema “São Cirilo e São Metódio entre os povos eslavos”.
  • 18 de maio de 2013: Vigília de Pentecostes, presidida pelo Papa com a participação dos movimentos eclesiais.
  • 2 de junho de 2013: O papa presidirá a solene adoração eucarística e em todo o mundo, dioceses, paróquias e outras comunidades serão convidadas a promover adorações.
  • 22 de junho de 2013: Concerto na Praça de São Pedro para celebrar o Ano da Fé.
  • 23 a 28 de julho de 2013: Jornada Mundial da Juventude, na Rio de Janeiro, com a participação do Papa.
  • 29 de setembro de 2013: Jornada dos Catequistas e recordação dos 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica.
  • 13 de outubro de 2013: Celebração em honra de Nossa Senhora, presidida pelo Papa, com a participação das associações marianas.
  • 24 de novembro de 2013: Celebração conclusiva do Ano da Fé.

* Retirado da Revista Ave Maria, ano 114, outubro de 2012, pág. 24 e 25.

Mensagem do Pe. Xico


GED de Campina Grande PB


Carta do mês de outubro de 201

 

Carta do mês de outubro de 2012
Carta MCC Brasil – Out 2012 – (158ª.)

Carta MCC Brasil – Out 2012 – (158ª.)
“O Senhor disse a Abrão: “Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar” (Gn 12, 1).
 “Então, com coragem, Paulo e Barnabé declararam: Era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós. Mas, como a rejeitais e vos considerais indignos da vida  eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos. Pois esta é a ordem que o Senhor nos deu: ‘Eu te constitui como luz das nações, para levares a salvação até os confins da terra’” (At 13, 46-47).
                                                                                    
Meus muito amados irmãos e irmãs, discípulos (as) missionários (as) da Boa Notícia do Senhor Jesus Cristo nesta nossa complexa e desafiadora mudança de época e de cultura:

Mês de outubro. Mês das Missões. Mês do missionário, da missionária. Ao falar em “missão” falamos em Evangelização. Evangelizar é a missão fundante da Igreja. Evangelizar é proclamar ao mundo, à humanidade a BOA NOTÍCIA do Reino de Deus, ou seja, do próprio Senhor Jesus: “... e toda língua confesse ‘Jesus Cristo é o Senhor’ para a gloria de Deus Pai” (Fl 2,11). Evangelizar é ser, ao mesmo tempo, discípulo e missionário. Pelo menos desde o Concílio Vaticano II até os mais recentes Documentos do seu Magistério, tem sido esta a mais insistente tônica da mensagem da Igreja Católica. E, para este ano, traz o mês das Missões alguma novidade? Alguma outra motivação? Algum outro elemento que possa suscitar nos seguidores de Jesus um novo entusiasmo ou fazê-los descobrir “novas expressões, novos métodos e um novo ardor”, como disse João Paulo II?
Eis que o Espírito Santo, que “renova a face da terra”, inspira o tema para a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada pelo Papa Bento XI para os dias 7 a 28 deste mês. Assim se expressam os “Lineamenta”[1] referindo-se à urgência de uma nova evangelização nos dias de hoje: “Nas últimas décadas tem-se falado também da urgência da nova evangelização. Tendo presente a evangelização como horizonte comum da Igreja, bem como a ação de anúncio do Evangelho ad gentes, que requer a formação de comunidades locais, de Igrejas particulares, nos Países missionários de primeira evangelização, a nova evangelização é, antes de mais, endereçada a quantos se afastaram da Igreja nos Países da antiga cristandade. Tal fenômeno, infelizmente, existe em vários graus, mesmo nos Países onde a Boa Nova foi anunciada nos últimos séculos, mas que ainda não foi suficientemente bem acolhida a ponto de transformar a vida pessoal, familiar e social dos cristãos. As Assembleias especiais do Sínodo dos Bispos, em nível continental, celebrados em preparação do Jubileu do Ano 2000, evidenciaram esse fato”.
E, continuando, o mesmo documento afirma que: “Este é um dos grandes desafios para a Igreja universal. Por isso, Sua Santidade Bento XVI, depois de auscultar a opinião dos seus irmãos no episcopado, decidiu convocar a XIII Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre o tema A nova evangelização para a transmissão da fé cristã, que se realizará de 7 a 28 de Outubro de 2012. Retomando a reflexão até agora realizada sobre o argumento, a Assembleia sinodal terá por objetivo analisar a situação atual nas Igrejas particulares, para traçar, em comunhão com o Santo Padre Bento XVI, Bispo de Roma e Pastor Universal da Igreja, novas formas e expressões da Boa Notícia que devem ser transmitidas ao homem contemporâneo com renovado entusiasmo, próprio dos santos, alegres testemunhas do Senhor Jesus Cristo, «Aquele que era, que é e que há de vir» (Ap. 4, 8). É um desafio a retirar, como o escriba que se tornou discípulo do Reino dos céus, coisas novas e coisas antigas do precioso tesouro da Tradição (cf. Mt. 23, 52)”.
Visando a nos ajudar a assumir estes desafios, aqui vão alguns pontos, juntamente com a sugestão de um itinerário que julgo pertinentes para este momento.


1. DESENVOLVER uma mentalidade missionária. Relativamente fácil é “sair em missão” em épocas especiais e em determinadas circunstâncias, por exemplo, visitando as famílias da paróquia levando a Palavra de Deus, promovendo dias de oração pelas Missões, fazendo coletas com esta finalidade, etc.. Se tudo isto é importante, entretanto, alguns gestos não bastam para a tarefa que o Senhor nos confia. É necessário criarmos uma “mentalidade missionária”, quer dizer, introjetar na mente a convicção de que toda a sua vida, todas as suas ações, a sua maneira de pensar, de tomar decisões, enfim de reger a sua vida, devem fundamentar-se na sua condição de missionário, de missionária. Filho de Deus, sim! Filha de Deus, sim! Discípulo e discípula, sim! Missionário, missionária, sempre! Vejam se o itinerário abaixo apresentado pode ajudá-los:

2. SAIR, ESVAZIAR-SE.

2.1. SENTIR-SE CHAMADO (A). É o primeiro passo. Não só ocasionalmente, mas, como os apóstolos, chamados permanentemente com a consciência de “enviados” para o anúncio perseverante da Palavra; embaixadores de Jesus junto às “ovelhas perdidas” do mundo, não só nas horas vagas (nas tais horas de “apostolado”), mas na tessitura mais profunda da vida. Assim, pouco a pouco, sob a ação transformadora do Espírito Santo, vai-se criando uma “mentalidade missionária”. Para isso é urgente o passo seguinte:
2.2. APRENDER a RENUNCIAR. Despojar-se, esvaziar-se de tudo quanto é supérfluo; livrar-se de pesos inúteis: da vaidade, do orgulho, de uma certa convicção de achar-se “dono da verdade”, de certas devoções e de algumas expressões de piedade tradicionais que só servem para conduzir a um “egoísmo espiritual” absolutamente estéril para os caminhos da missão. É assim que Jesus nos quer e nos envia hoje, como aos apóstolos primeiros: “De graça recebestes, de graça deveis dar! Não leveis ouro, nem prata, nem dinheiro à cintura; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastão, pois o trabalhador tem direito a seu sustento” (Mt 10, 8b-10).

3. ANUNCIAR. Sobre o “anunciar” hoje a Palavra de Deus, nada se apresenta mais oportuno do que toda a Terceira Parte da Exortação Apostólica VERBUM DOMINI: “A Missão da Igreja: anunciar a Palavra de Deus ao Mundo”. Sem outro comentário, termino deixando à reflexão “missionária” dos queridos leitores e leitoras, neste “mês missionário”, parte de dois parágrafos basilares.

3.1. ANUNCIAR O “LOGOS DA ESPERANÇA”. “O Verbo de Deus comunicou-nos a vida divina que transfigura a face da terra, fazendo novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5). A sua Palavra envolve-nos não só como destinatários da revelação divina, mas também como seus arautos. Ele, o enviado do Pai para cumprir a sua vontade (cf. Jo 5, 36-38; 6, 38-40; 7, 16-18), atrai-nos a Si e envolve-nos na sua vida e missão. Assim o Espírito do Ressuscitado habilita a nossa vida para o anúncio eficaz da Palavra em todo o mundo. É a experiência da primeira comunidade cristã, que via difundir-se a Palavra por meio da pregação e do testemunho (cf. At 6, 7 (VD 91).
3.2. VOCAÇÃO DOS FIÉIS LEIGOS: “Os fiéis leigos são chamados a exercer a sua missão profética, que deriva diretamente do baptismo, e testemunhar o Evangelho na vida diária onde quer que se encontrem. A este respeito, os Padres sinodais exprimiram «a mais viva estima e gratidão bem como encorajamento pelo serviço à evangelização que muitos leigos, e particularmente as mulheres, prestam com generosidade e diligência nas comunidades espalhadas pelo mundo, a exemplo de Maria de Magdala, primeira testemunha da alegria pascal». Além disso, o Sínodo reconhece, com gratidão, que os movimentos eclesiais e as novas comunidades constituem, na Igreja, uma grande força para a evangelização neste tempo, impelindo a desenvolver novas formas de anúncio do Evangelho” (VD 94).

Com meu abraço fraterno, invoco sobre todos os meus queridos irmão e irmãs, a proteção da primeira discípula missionária, a Virgem Maria e todas as bênçãos do “Logos da Esperança” que anunciamos: o Senhor Jesus.



Pe. José Gilberto BERALDO
II Assessor Nacional Adjunto MCC Brasil
E-mail: jberaldo79@gmail.com

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O MCC te convida!


Carta do Pe. Beraldo, mês de setembro de 2012

 

Carta do mês de setembro de 2012


“E como a chuva e a neve que caem do céu para lá não voltam sem antes molhar a terra e fazê-la germinar e brotar,  a fim de produzir semente para quem planta e alimento para quem come, assim também acontece com a minha palavra: Ela sai da  minha boca e para mim não volta sem produzir seu resultado, sem fazer aquilo que planejei, sem cumprir com sucesso a sua missão” (Is 55, 10-11).

Meus muito amados leitores e leitoras, a todos desejo que possamos ser um terreno fértil para receber a Palavra, dela sendo fiéis anunciadores e missionários:

Na Carta do mês de setembro do ano passado, refletimos sobre um dos parágrafos mais importantes da Exortação Apostólica VERBUM DOMINI (VD) sobre a Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja, ou seja, sobre a “Cristologia da Palavra”.

Proponho que neste mês continuemos nossa reflexão em torno do mesmo documento que, por tratar da Palavra de Deus, permanece sempre atual e motivador, agora sobre a “Missão da Igreja: anunciar a Palavra de Deus ao mundo”.[1] Detenhamo-nos, pois, sobre os dois parágrafos iniciais: “A Palavra que sai do Pai e volta para o Pai” (90) e “Anunciar ao mundo o “Logos” da Esperança” (91).
1. “A Palavra que sai do Pai e volta para o Pai”. Diante dessa afirmação, assim de simples, somos convidados a nada mais nada menos que mergulhar no mistério da identidade de Jesus – Palavra - com o seu Pai. Reflitamos sobre alguns passos a serem dados para podermos praticar esse “mergulho”.

a) O primeiro passo está em “desconstruir” a “imagem, conceitos ou palavras” que usamos ao referir-nos a Deus. Diz o Papa: “São João sublinha fortemente o paradoxo fundamental da fé cristã. Por um lado, afirma que «ninguém jamais viu a Deus» (Jo 1, 18; cf. 1 Jo 4, 12): de modo nenhum podem as nossas imagens, conceitos ou palavras definir ou calcular a realidade infinita do Altíssimo; permanece o Deus semper maior” (VD 90). Porque é importante esta “desconstrução”? Para não reduzirmos a figura de Deus à “nossa imagem e semelhança”, isto é, às nossas próprias limitações, por exemplo, quanto à figura do pai, hoje, em muitos casos, perverso com os filhos, vingativo com a esposa, etc.. Deus, lembra o Papa, é sempre maior. E então, assim “descontruindo” Sua imagem, que ideia faremos de Deus, querendo “mergulhar no seu mistério? A resposta vem em seguida, de maneira que já podemos nos aprofundar mais um pouquinho neste “mergulho no mistério” buscando “construir” um Deus como muito perto de nós, aliás, como um de nós, no nosso meio, participante ativo de nossos problemas, angústias e esperanças!        

b) O segundo passo para o nosso “mergulho” no mistério de Deus quem nos ajuda a dar é a “Palavra que sai do Pai”: conhecedor de sua criatura limitada pela condição humana o Pai, pelo Filho-Palavra, assume o humano para introduzi-la no mistério: “Por outro lado, diz (S.João) que realmente o Verbo «Se fez carne» (Jo 1, 14). O Filho unigénito, que está voltado para o seio do Pai, revelou o Deus que «ninguém jamais viu» (Jo 1, 18). Jesus Cristo vem a nós «cheio de graça e de verdade» (Jo 1, 14), que nos são dadas por meio d’Ele (cf. Jo 1, 17); de fato, «da sua plenitude é que todos nós recebemos, graça sobre graça» (Jo 1, 16). E assim, no Prólogo, o evangelista João contempla o Verbo desde o seu estar junto de Deus passando pelo fazer-Se carne, até ao regresso ao seio do Pai, levando consigo a nossa própria humanidade que assumiu para sempre “(VD 90). Já em um parágrafo anterior, encontramos algumas palavras carregadas de ternura para introduzir-nos no mistério de Deus: “O próprio Filho é a Palavra, é o Logos: a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós». Desde então a Palavra já não é apenas audível, não

possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré” (VD 12).

Meu irmão, minha irmã: ao participar da celebração eucarística você já se deu conta da breve oração pronunciada pelo celebrante ao misturar uma gota d’àgua no cálice com vinho? Não? Então, na próxima vez coloque-se em lugar desta gotinha d’água e repita, no silêncio do seu coração, mergulhando na divindade de sua própria humanidade: “Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do vosso Filho que se dignou assumir a nossa humanidade”.

c) O terceiro passo para o nosso mergulho total no mistério do Pai é trabalhar para deixar que a Palavra que desce do céu cumpra a sua missão, “produza em nós o seu efeito: “Neste sair do Pai e voltar ao Pai (cf. Jo 13, 3; 16, 28; 17, 8.10), Ele apresenta-Se-nos como o «Narrador» de Deus (cf. Jo 1, 18). De fato, o Filho – afirma Santo Ireneu de Lião – «é o Revelador do Pai». Jesus de Nazaré é, por assim dizer, o «exegeta» de Deus que «ninguém jamais viu»; «Ele é a imagem do Deus invisível» (Cl 1, 15). Cumpre-se aqui a profecia de Isaías relativa à eficácia da Palavra do Senhor: assim como a chuva e a neve descem do céu para regar e fazer germinar a terra, assim também a Palavra de Deus «não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter executado a minha vontade e cumprido a sua missão» (Is 55, 10-11). “Jesus Cristo é esta Palavra definitiva e eficaz que saiu do Pai e voltou a Ele, realizando perfeitamente no mundo a sua vontade” (VD b).

Que tipo de terreno você tem preparado na sua vida para nele deixar cair e receber a Palavra e para que ela produza seus efeitos em sua vida, voltando depois para o seio do Pai carregada de frutos? (cf. Jo 15,5).

2. “Anunciar ao mundo o “Logos” da Esperança. Neste mês da Bíblia, mês da Palavra, mais numa vez somos lembrados pela VD, maneira enfática, que não somos tão somente discípulos, mas que devemos ser igualmente missionários. Dois pontos chamam a nossa atenção motivando-nos para a tarefa que o Senhor nos confia.

a) Somos “não só destinatários da revelação divina, mas também seus arautos”. Quem se deixa encharcar com a Palavra, necessariamente dela se torna anunciador. Se “O Verbo de Deus comunicou-nos a vida divina – diz a VD – que transfigura a face da terra, fazendo novas todas as coisas”, da mesma forma ela nos renova para sermos seus eficientes missionários. Ademais, contamos com o “Espírito do Ressuscitado que habilita a nossa vida para o anúncio eficaz da Palavra em todo o mundo”. Acentua a VD que a Palavra se difunde por meio da pregação e do testemunho, dando-nos como exemplo o Apóstolo Paulo: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20) e exclama: “Ai de mim de mim se não evangelizar” (1Cor 9,16). Cremos nessas afirmações? No nosso estado de vida – família, profissão, relações sociais, etc. - estamos dispostos a vivê-las sem reservas? E o nosso Movimento, já assumiu sua dimensão missionária ou ainda prefere fechar-se nos seus pequenos grupos?

 b) “O homem precisa da ‘grande Esperança’ para viver o seu próprio presente”. Efetivamente, não poderiam ser mais oportunas para o nosso mundo de hoje, tão marcado pela falta de esperança em todos os níveis, começando pela pessoa, do que as palavras que encerram este parágrafo da VD. Que elas possam ficar ecoando em nossos ouvidos e em nossos corações para podermos levá-las à prática: “Com efeito, o que a Igreja anuncia ao mundo é o Logos da Esperança (cf. 1 Pd 3, 15); o homem precisa da «grande Esperança» para poder viver o seu próprio presente – a grande esperança que é «aquele Deus que possui um rosto humano e que nos “amou até ao fim” (Jo 13, 1)». Por isso, na sua essência, a Igreja é missionária. Não podemos guardar para nós as palavras de vida eterna, que recebemos no encontro com Jesus Cristo: são para todos, para cada homem. Cada pessoa do nosso tempo – quer o saiba quer não – tem necessidade deste anúncio. Oxalá o Senhor suscite entre os homens, como nos tempos do profeta Amós, nova fome e nova sede das palavras do Senhor (cf. Am 8, 11). A nós cabe a responsabilidade de transmitir aquilo que por nossa vez tínhamos, por graça, recebido” (VD 91).

Com um abraço fraterno, despeço-me, desejando que todos possamos acolher a Palavra, assistidos e fortalecidos por Aquela que foi a primeira a acolher a Palavra, discípula missionária, a Virgem e Mãe Maria,
 
                                                                                                                      Pe.José Gilberto BERALDO
E-mail:beraldo79@gmail.com

Mensagem do Pe. Xico


Cristo quer colorir sua vida!


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Carta mensal do Pe. Beraldo


Carta do mês de agosto de 2012
Carta MCC Brasil – AGO 2012 (156ª.)

“Desceu, então, uma nuvem, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado”. escutai-o!...(Cs Mc 9,5.7) “Levantai-vos, não tenhais medo” (Mt 17,7).
“Pois não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua grandeza. efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez a ouvir aquela voz que dizia: “Este é o meu Filho bem-amado, no qual está om meu agrado”. Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele na montanha santa” (2PD 1,16 -17).


Irmãos e irmãs, lavados pelo sangue redentor do Senhor Jesus e com Ele transfigurados à sua imagem: esteja com vocês a luz fulgurante da graça divina!

Acompanhando as celebrações litúrgicas deste mês de agosto, podemos mergulhar em nossa reflexão num dos momentos mais significativos para a nossa fé no Filho de Deus: a transfiguração de Jesus no Monte Tabor (dia 6). E, é claro, ainda que somente numa breve referência por ser limitado este nosso espaço, lembrar a festividade da Assunção de Nossa Senhora (dia 15; neste ano, na Igreja no Brasil, transferida para o domingo seguinte, dia 19).

1. Escutar Jesus

a) Escutar apenas Jesus no seu coração, na sua vida. Os ruídos externos, as vozes que vêm de fora, os rumores da publicidade através dos modernos e ousados meios de comunicação, as nossas “necessidades necessárias”, enfim, as seduções quase irresistíveis do consumismo e do prazer, tudo isso vai criando como que uma muralha entre a Palavra – Jesus – e o coração de quem a ouve. Assim, de tal modo somos envolvidos, que nem sempre conseguimos escutá-la. A mente humana torna-se uma verdadeira caixa de ressonância que nos impede de “escutar” tudo o que Jesus tenta nos comunicar. Pois “escutar” é muito mais penetrante do que, simplesmente “ouvir”. O “ouvir” é transitório ou, como se costuma dizer, é quando a palavra ‘entra por um ouvido e sai pelo outro’. O “escutar” percorre o caminho mais longo que, entrando primeiro no ouvido, em seguida vai á mente e, depois, chega ao coração. Os ouvidos ouvem a Palavra, a mente a escuta e o coração aberto a recebe e assimila na vida. É ali, nas profundezas daquele órgão que simboliza a vida, que experimentamos a emoção da Palavra. Emoção que, de volta à mente, deve levar a uma opção de vida. De forma que a Palavra, entrando e transformando a vida de quem a escuta, impele a descer do Tabor do enlevo, do Tabor da admiração, do Tabor da mera contemplação sem a ação evangelizadora ou do Tabor da acomodação à pura e ruinosa rotina... Para voltar ao chão do dia a dia, transfigurado pela Palavra e com a Palavra. Do mesmo modo que a Pedro, privilegiado expectador de Jesus transfigurado, também a nós pode assaltar-nos a tentação de armar tendas: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias” (Mt 17,4). Com uma agravante para nós: talvez, até, propuséssemos armar uma “tenda pessoal”, ao contrário de Pedro que, desinteressadamente, esqueceu-se de si mesmo e dos companheiros...

Agora, meu irmão, minha irmã, uma pergunta que não quer calar: você “ouve” somente, ou “escuta” a Palavra daquele que é o Filho muito amado do Pai? Se a escuta, você tem a coragem de descer do seu Tabor e tenta colocá-la em prática na solidariedade, na compreensão, na verdadeira amizade fraterna, no perdão, etc.? Ou deixa-se envolver por outras palavras barulhentas que agridem seus ouvidos entrando na sua mente e, até, no seu coração e que, portanto, acaba determinando sua maneira de pensar – sua mentalidade – e orientando o rumo de sua vida? Aliás, são palavras ou ruídos que podemos identificar, segundo São Pedro, como “fábulas inventadas”: “Pois não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua grandeza”.

b) “Levantai-vos, não tenhais medo”. Será que também nós temos medo de escutar somente Jesus? Com muita razão, um bastante respeitado teólogo moderno, o espanhol José Antônio Pagola, num excelente texto sobre a Transfiguração de Jesus, afirma que devemos “escutar apenas Jesus”: “Também a nós, cristãos de hoje, nos mete medo escutar somente Jesus. Não ousamos colocá-lo no centro das nossas vidas e comunidades. Não lhe deixamos ser a única e definitiva Palavra. É o próprio Jesus quem nos pode libertar de tantos medos, covardias e ambiguidades se nos deixarmos transformar por Ele” [1]. De fato, por experimentá-los em nossa própria carne, cada um de nós sabe de que medo da escuta da Palavra é possuído. Eu diria, melhor, até dominado ou escravizado por eles. Há, portanto, medos pessoais: medo da escutar a Palavra para não nos comprometermos com ela; medo de sair dos nossos comodismos; medo de renunciar aos nossos insaciáveis desejos do ter e do poder; medo de ser solidários; medo de ser julgados como ignorantes do que seja “levar vantagem em tudo”; medo, enfim, da prática do “sermão da montanha”, isto é, da prática das bem-aventuranças (Cf. MT 5,1-11). Parece que só não temos medo de erguer nossa tenda no Monte Tabor!

E há os medos, digamos, “genéricos”. Entre esses medos, aproveito para partilhar com meus queridos leitores, alguns medos citados pelo mesmo Pagola[2] e que são próprios dos que – como nós, Igreja que somos – querem ser evangelizadores: a) o medo do novo, do desconhecido e da nova cultura que estão vindos por aí. Mesmo no trabalho da missão prefere-se o que o Documento de Aparecida chama de “uma pastoral de mera conservação” (Dap 370). Pagola acrescenta: “No entanto, não é menos verdade que o que move a Igreja nestes tempos não é tanto um espírito de renovação, mas antes um instinto de conservação”; b) o medo de “assumir tensões e conflitos que traz consigo o procurar a fidelidade ao Evangelho. Calamo-nos quando devíamos falar; inibimo-nos quando devíamos intervir... preferimos a adesão rotineira que não traz problemas nem indispõe a hierarquia”; c) o medo de “antepor a misericórdia acima de tudo, esquecendo que a Igreja não recebeu o ‘ministério do juízo e da condenação’ mas sim, o ‘ministério da reconciliação’. Há medo de acolher os pecadores como Jesus fazia. Dificilmente se dirá hoje da Igreja que é ‘amiga dos pecadores’, como se dizia do seu Mestre”. E termina Pagola o elenco de alguns medos, com a reação dos discípulos e a intervenção de Jesus: “Segundo o relato evangélico, os discípulos caem por terra ‘muito assustados’ ao ouvir uma voz que lhes diz: ‘Este é o meu Filho muito amado... Escutai-o’. Mete medo escutar apenas Jesus. É o próprio Jesus que se aproxima, toca-lhes e diz-lhes: ‘Levantai-vos e não tenhais medo’. Só o contato com Jesus nos podia libertar de tanto medo”.
A Transfiguração de Jesus revela-nos a nossa própria transfiguração em filhos e filhas de Deus; de filhos e filhas de Deus em discípulos do seu Filho muito amado; de discípulos apaixonados em missionários sem medo e ardorosos e, consequentemente, alimenta a nossa esperança em “‘novos céus e nova terra’, nos quais habitará a justiça” (2PD 3,13; AP 21, 1-4).

2. Maria assunta aos céus. Não podíamos deixar de lembrar aqui a celebração da Assunção de Maria aos céus. Aquela Maria que, ao anúncio do anjo, teve receio de ser a mãe da Palavra, mas que, cheia de divina coragem, não teve medo do que poderiam dizer seus vizinhos e parentes diante de sua gravidez; alegre, visitou e serviu sua prima Isabel e “esteve com ela três meses” (Cf. LC 1,56); fortalecida, acompanhou, passo a passo, o seu Filho pelos caminhos desafiadores de sua missão de anunciar o Reino; mais corajosa ainda, com Ele percorreu a Via Sacra e, aos pés da cruz, nos recebeu a todos nós como filhos e filhas.

Intercessão. Ó Maria assunta aos céus, livra-nos de todos os medos, infunde-nos coragem e ânimo nesta nossa peregrinação terrestre rumo ao Reino definitivo, auxiliando-nos, pela constante conversão, a nos transfigurar à imagem do seu próprio Filho e alimentando a nossa esperança na futura ressurreição. Amém!

Meu abraço fraterno para todos os queridos “transfigurados” na luz do Senhor Jesus!

 

PE.José Gilberto Beraldo
II Assessor eclesiástico Nacional Adjunto

 
 
 

Agosto, mês vocacional.


Agosto, mês das vocações
Por: Dom Fernando Mason
Bispo Diocesano de Piracicaba

Para alguns, agosto é um mês de que se cuidar, pois ele seria nefasto... Mas para os participantes assíduos da comunidade católica, agosto, além de ser um mês abençoado como todos os demais, é desde 1981 o mês vocacional.

Por que tamanha importância dada ao tema vocação? Porque a vocação é o início de tudo. Quando ouvimos ou usamos a palavra vocação, logo a entendemos num sentido bastante vago e geral, como sendo uma inclinação, um talento, uma qualidade que determina uma pessoa para uma determinada profissão, por exemplo, vocação de pedreiro, de mãe, de médico.

E nessa compreensão também a vocação de sacerdote, de esposos, de leigos cristãos. Essa compreensão, porém, não ajuda muito no bom entendimento do que seja vocação quando nós, na Igreja, usamos essa palavra.

Vocação, em sentido mais preciso, é um chamamento, uma convocação vinda direta-mente sobre mim, endereçada à minha pessoa, a partir da pessoa de Jesus Cristo, convocando-me a uma ligação toda própria e única com Ele, a segui-lo, (cf. Mc 2,14). Vocação, portanto, significa que anterior a nós há um chamado, uma escolha pessoal que vem de Jesus Cristo, a quem seguimos com total empenho, como afirma São Paulo na Carta aos Romanos: "Eu, Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação, escolhido para o Evangelho de Deus." (Rom 1, 1)

Vocação é chamado e resposta. É uma semente divina ligada a um sim humano. Nem a percepção do chamado, nem a resposta a ele são tão fáceis e tão "naturais". Exigem afinação ao divino e elaboração de si mesmo, sem as quais não há vocação verdadeira e real.

Essa escolha pessoal, de amor, é concretizada de uma forma bem objetiva no Sacramento do Batismo, que por isso se torna fundamento e fonte de todas as vocações. É neste chão fértil, carregado de húmus divino, regado pelo sangue de Jesus, que brotam as vocações específicas, aquelas que cabem diferentemente a cada um. Algumas delas são mais usuais e comuns, como a de casal cristão, de leigo cristão, de catequista, de animador da caridade na comunidade.

Outras são definidas pela Igreja como vocações de "singular consagração a Deus", por serem menos usuais, mas igualmente exigentes e mais radicais no processo de seguimento de Jesus: são as vocações de sacerdote, de diácono, de religioso, de religiosa.

As vocações mais usuais são cultivadas em nossas comunidades eclesiais. As de "singular consagração a Deus" são cultivadas em comunidades eclesiais especiais, como nossos seminários.

O mês vocacional quer nos chamar à reflexão para a importância da nossa vocação, descobrindo nosso papel e nosso compromisso com a Igreja e a sociedade. Reflexão que deve nos levar à ação, vivenciando no dia-a-dia o chamado que o Pai nos faz. Que a celebração do mês vocacional nos traga as bênçãos do Pai para vivermos a nossa vocação sacerdotal, diaconal, religiosa ou leiga. Todas elas são importantes e indispensáveis. Todas elas levam à perfeição da caridade, que é a essência da vocação universal à santidade.

E no domingo de agosto, quando refletimos sobre a vocação leiga, somos convidados a homenagear nossos catequistas, aquelas pessoas que, num testemunho de fé e generosidade, dedicam-se ao sublime ministério de transmitir as verdades divinas a nossas crianças, adolescentes e jovens.

Oremos pelas vocações Sacerdotais

                                                    ...ninguém nasce Padre...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Carta mensal do Pe. Beraldo, julho de 2012

Carta MCC Brasil – Julho 2012 (155ª.)
“Então (Jesus) pegou o cálice, deu graças e disse: “Recebei este cálice e fazei passar entre vós, pois eu vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus”. A seguir, tomou o pão, deu graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim”. Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós” (Lc 22,17-20).
Meus queridos irmãos e irmãs, partícipes e comensais da Palavra pela comunhão no Corpo e no Sangue de Jesus:
Nossa última Carta propôs reflexões acerca do mistério trinitário e, com isto, ocupou todo o habitual espaço de quase duas páginas. Deixamos, portanto, de tratar de outro mistério central da nossa fé, a Eucaristia, uma vez que naquele mesmo mês celebramos a desta do Corpus Christi, ou seja, do Corpo de Cristo. Vamos refletir, então, neste mês, sobre a Eucaristia na vida da Igreja e em nossa própria vida. E vamos fazê-lo orientados por dois documentos do magistério eclesiástico e que se nos apresentam como de suma importância: o Documento de Aparecida (DAp) e a Exortação Apostólica “Verbum Domini” (VD).
1. A Eucaristia no Documento de Aparecida (DAp). A Eucaristia aparece 32 vezes em todo o DAp. Trata-se, portanto, de um tema transversal, isto é, um tema que é como que um fio condutor das reflexões e propostas do documento. Sendo assim, temos que escolher apenas alguns parágrafos para nossa reflexão, deixando aos caros leitores uma “santa curiosidade” para buscar outros pontos igualmente importantes. Como motivação para leitura e reflexão, cito literalmente alguns trechos de cada parágrafo dos documentos, colocando como abertura de cada um, um título que resume o seu conteúdo principal. Assim o faço para que você mesmo, meu caro leitor, leitora, possa descobrir a riqueza nele contida.
a) A Eucaristia, “fonte e ponto mais alto da vida cristã”. “Igual às primeiras comunidades de cristãos, hoje nos reunimos assiduamente para “escutar o ensinamento dos apóstolos, viver unidos e participar do partir do pão e nas orações” (At 2,42). A Eucaristia, participação de todos no mesmo Pão de Vida e no mesmo Cálice de Salvação, faz-nos membros do mesmo Corpo (cf. 1 Cor 10,17). Ela é a fonte e o ponto mais alto da vida cristã, sua expressão mais perfeita e o alimento da vida em comunhão. A Igreja que a celebra é “casa e escola de comunhão” onde os discípulos compartilham a mesma fé, esperança e amor a serviço da missão evangelizadora” (DAp158).
b) A Eucaristia, “lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo”. “A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo. Com este Sacramento, Jesus nos atrai para si e nos faz entrar em seu dinamismo em relação a Deus e ao próximo. Há um estreito vínculo entre as três dimensões da vocação cristã: crer, celebrar e viver o mistério de Jesus Cristo, de tal modo, que a existência cristã adquira verdadeiramente uma forma eucarística. Em cada Eucaristia, os cristãos celebram e assumem o mistério pascal, participando n’Ele. Portanto, os fiéis devem viver sua fé na centralidade do mistério pascal de Cristo através da Eucaristia, de maneira que toda sua vida seja cada vez mais vida eucarística. A Eucaristia, fonte inesgotável da vocação cristã é, ao mesmo tempo, fonte inextinguível do impulso missionário. Ali, o Espírito Santo fortalece a identidade do discípulo e desperta nele a decidida vontade de anunciar com audácia aos demais o que tem escutado e vivido” (DAp251).
c) A Eucaristia, “alimento para o caminho”. “Em sua palavra e em todos os sacramentos Jesus nos oferece um alimento para o caminho. A Eucaristia é o centro vital do universo, capaz de saciar a fome de vida e de felicidade: “Aquele que come de mim, viverá” (Jo 6,57). Nesse banquete feliz participamos da vida eterna e, assim, nossa existência cotidiana se converte em uma Missa prolongada. Mas todos os dons de Deus requerem uma disposição adequada para que possam produzir frutos de mudança. Especialmente, nos exigem um espírito comunitário, que abramos os olhos para reconhecê-lo e servi-lo nos mais pobres: “No mais humilde encontramos o próprio Jesus”200. Por isso, São João Crisóstomo exortava: “Querem em verdade honrar o corpo de Cristo? Não consintam que esteja nu. Não o honrem no templo com mantos de seda enquanto fora o deixam passar frio e nudez” (DAp 354).
2. A Eucaristia na “Verbum Domini” (VD)
a) A relação essencial entre Jesus- Palavra do Pai e a Eucaristia. “Quanto foi dito de modo geral a respeito da relação entre Palavra e Sacramentos, ganha maior profundidade aplicado à celebração eucarística. Aliás, a unidade íntima entre Palavra e Eucaristia está radicada no testemunho da Escritura (cf. Jo 6; Lc 24), é atestada pelos Padres da Igreja e reafirmada pelo Concílio Vaticano II. A este propósito, pensemos no grande discurso de Jesus sobre o pão da vida na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6, 22-69.... De fato, o discurso sobre o pão evoca o dom de Deus que Moisés obteve para o seu povo com o maná no deserto, que na realidade é a Torah, a Palavra de Deus que faz viver (cf. Sl 119; Pr 9, 5). Em Si mesmo, Jesus torna realidade esta figura antiga: «O pão de Deus é o que desce do Céu e dá a vida ao mundo. (...) Eu sou o pão da vida» (Jo 6, 33.35). Aqui, «a Lei tornou-se Pessoa. Encontrando Jesus, alimentamo-nos por assim dizer do próprio Deus vivo, comemos verdadeiramente o pão do céu». No discurso de Cafarnaum, aprofunda-se o Prólogo de João: se neste o Logos de Deus Se faz carne, naquele a carne faz-Se «pão» dado para a vida do mundo (cf. Jo 6, 51), aludindo assim ao dom que Jesus fará de Si mesmo no mistério da cruz, confirmado pela afirmação acerca do seu sangue dado a «beber» (cf. Jo 6, 53). Assim, no mistério da Eucaristia, mostra-se qual é o verdadeiro maná, o verdadeiro pão do céu: é o Logos de Deus que Se fez carne, que Se entregou a Si mesmo por nós no Mistério Pascal” VD 54a).
b) No diálogo com os discípulos de Emaus, a Palavra –Jesus faz-se Eucaristia. “A narrativa de Lucas sobre os discípulos de Emaús permite-nos uma reflexão subsequente acerca do vínculo entre a escuta da Palavra e a fracção do pão (cf. L c 24, 13-35).” Jesus foi ter com eles no dia depois do sábado, escutou as expressões da sua esperança desiludida e, acompanhando-os ao longo do caminho, «explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que Lhe dizia respeito» (24, 27). Juntamente com este viajante que inesperadamente se manifesta tão familiar às suas vidas, os dois discípulos começam a ver as Escrituras de um novo modo. O que acontecera naqueles dias já não aparece como um fracasso, mas cumprimento e novo início. Todavia, mesmo estas palavras não parecem ainda suficientes para os dois discípulos. O Evangelho de Lucas diz que «abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-No» (24, 31) somente quando Jesus tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lho deu; antes, «os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem» (24, 16). A presença de Jesus, primeiro com as palavras e depois com o gesto de partir o pão, tornou possível aos discípulos reconhecê-Lo e apreciar de modo novo tudo o que tinham vivido anteriormente com Ele: «Não estava o nosso coração a arder, quando Ele nos explicava as Escrituras?» (24, 32). (VD 54)
c) A Palavra de Deus conduz necessariamente à Eucaristia. “Vê-se a partir destas narrações como a própria Escritura leva a descobrir o seu nexo indissolúvel com a Eucaristia. «Por conseguinte, deve-se ter sempre presente que a Palavra de Deus, lida e proclamada na liturgia pela Igreja, conduz, como se de alguma forma se tratasse da sua própria finalidade, ao sacrifício da aliança e ao banquete da graça, ou seja, à Eucaristia». Palavra e Eucaristia correspondem-se tão intimamente que não podem ser compreendidas uma sem a outra: a Palavra de Deus faz-Se carne, sacramentalmente, no evento eucarístico. A Eucaristia abre-nos à inteligência da Sagrada Escritura, como esta, por sua vez, ilumina e explica o Mistério eucarístico. Com efeito, sem o reconhecimento da presença real do Senhor na Eucaristia, permanece incompleta a compreensão da Escritura. Por isso, «à palavra de Deus e ao mistério eucarístico a Igreja tributou e quis e estabeleceu que, sempre e em todo o lugar, se tributasse a mesma veneração embora não o mesmo culto. Movida pelo exemplo do seu fundador, nunca cessou de celebrar o mistério pascal, reunindo-se num mesmo lugar para ler, “em todas as Escrituras, aquilo que Lhe dizia respeito” (L c 24, 27) e atualizar, com o memorial do Senhor e os sacramentos, a obra da salvação» (VD 55).
Termino desejando que meus caros leitores e leitoras possam encontrar proveito e inspiração nestes Documentos do nosso Magistério para viver cada vez mais intensamente, tanto a Palavra de Deus que a prepara como a Eucaristia que a completa no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Abraço fraterno do irmão e amigo,
Pe. José Gilberto Beraldo
Segundo Assessor Eclesiástico Nacional - MCC do Brasil

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Carta mensal do Pe. Beraldo - junho 2012






CARTA MCC BRASIL – JUN 2012 (154ª.)

“Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!
Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20).


Meus amados irmãos e irmãs, “templos de Deus e habitação do Espírito de Deus” (cf. 1Cor 3,16): 

A proposta desta Carta mensal é a de proporcionar alguns pontos para nossa reflexão a partir do mistério da Santíssima Trindade. Muito se poderia escrever sobre este mistério, o mais profundo e desafiador para nossa natureza humana e para a nossa fé. Detenhamo-nos sobre alguns deles apenas.
1. A Santíssima Trindade. Celebrada a grande festa do Espírito Santo, numa perene manifestação do Espírito de Deus, somos convidados a comemorar no próximo dia 03/06, uma como que síntese de todas as celebrações, do Natal até agora: o mistério da Santíssima Trindade. O Domingo da Santíssima está destinado a repercutir em todos os outros domingos e dias do ano, precisamente porque nas Três Pessoas Divinas vive-se um dos mistérios centrais de nossa fé. A esse respeito afirma o Papa Bento XVI na sua preciosa Exortação Apostólica ‘Verbum Domini’(VD): “No Filho, «Logos feito carne» (cf. Jo 1, 14), que veio para cumprir a vontade d’Aquele que O enviou (cf. Jo 4, 34), Deus, fonte da revelação, manifesta-Se como Pai e leva à perfeição a educação divina do homem, já anteriormente animada pela palavra dos profetas e pelas maravilhas realizadas na criação e na história do seu povo e de todos os homens. O apogeu da revelação de Deus Pai é oferecido pelo Filho com o dom do Paráclito (cf. Jo 14, 16), Espírito do Pai e do Filho, que nos «guiará para a verdade total» (Jo 16, 13). Deste modo, todas as promessas de Deus se tornam «sim» em Jesus Cristo (cf. 2 Cor 1, 20). Abre-se assim, para o homem, a possibilidade de percorrer o caminho que o conduz ao Pai (cf. Jo 14, 6), para que no fim «Deus seja tudo em todos» (1 Cor 15, 28) (VD 20). Aliás, ao enviar seus discípulos para a missão de anunciar o Reino a todo o mundo e fazer discípulos, Jesus manda que estes sejam “batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Esta nossa carta, portanto, tem como foco, alguma reflexões sobre a Trindade Santíssima.
a) Viver nas Três Pessoas divinas e abrir sua intimidade deixando-se invadir por Elas.  Quantas vezes e em quantas oportunidades temos ouvido e lido, quem sabe até, entre a incredulidade e a dúvida, que somos habitação do Deus Trindade? Pois não é da boca do próprio Jesus e por meio de São João que ouvimos: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”? [1]Aproveito-me desta oportunidade para apresentar aos caros leitores um exemplo marcante dessa vivência de intimidade trinitária. Trata-se da Beata Elizabete da Trindade, em cujos escritos encontrei um forte alimento para minha própria vida. Até como um testemunho pessoal – se me permitem - muito mais aprendi sobre a Santíssima Trindade naqueles escritos do que em todos os meus cursos de teologia. Pois nos livros aprendi a teoria e, ainda que ainda tão distante daquele caminho, em Elizabete da Trindade aprendi a prática e a experiência da intimidade com a Santíssima Trindade.

No dia 2 de janeiro de 1901, aos 21 anos, Elizabete ingressou no Carmelo Descalço de Dijon, cidade onde vivia com sua família. Recebeu o hábito no dia 8 de dezembro de 1902 e no dia 11 de janeiro de 1903 emitiu seus votos religiosos na Ordem do Carmelo, que já amava com toda sua alma. Com sua vida e doutrina, breve mas sólida, exerce grande influência na espiritualidade atual, especialmente por sua experiência trinitária. Em sua obra distinguem-se: Elevações, Retiros, Notas Espirituais e Cartas. Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, no dia 25 de novembro de 1984, festa de Cristo Rei. Sua festa é celebrada no dia 8 de novembro. Cito algumas afirmações da Beata Elizabete que me parecem oportunas para nossa reflexão: “Eu sou “Elisabeth da Trindade”, ou seja, a Elisabeth que desaparece, que se perde nos Três e se deixa invadir por Eles”. Ainda: “Não existem mais distâncias, porque já é o Uno como no céu… o céu que um dia chegará quando então veremos a Deus na sua luz”. Elisabete se rejubila e se “perde” no mistério da Trindade: “Deus em mim, e eu nele” deve ser o nosso lema. Que jubiloso mistério a presença de Deus dentro de nós, neste íntimo santuário das nossas almas onde sempre podemos encontrá-lo, também quando não percebemos mais sensivelmente a sua presença! Que importa o sentimento? Talvez ele esteja também mais perto, quando menos o sentimos”[2].
b) A Santíssima Trindade e a experiência mística. Ou, em outras palavras, uma experiência de espiritualidade nascida e enraizada na Trindade Santíssima. Imagino que alguém poderia, até, pensar que esta experiência seria possível somente a alguns privilegiados, santos e santas, recolhidos num convento ou mosteiro, longe do ruído do mundo aqui fora. Engano, pois posso testemunhar o contrário e partilhar com todos os meus caros leitores. Durante este meu já longo ministério sacerdotal, entre outras inúmeras graças que por Deus me foram concedidas, tive a de poder acompanhar alguns leigos e leigas, cuja vida foi uma continua experiência mística, experiência de um profundo envolvimento com o mistério de habitação da Santíssima Trindade. Sobretudo de uma delas: convertida de certa indiferença religiosa como tantos cristãos, hoje; mãe de família, dedicada e ocupada com todos os problemas de sua casa e, não raro, oprimida por eles, soube viver intensamente essa experiência, conciliando e entrelaçando em todos os momentos de sua vida, a contemplação com a ação. Uma preciosa fonte para seu amadurecimento na espiritualidade trinitária foi, precisamente, a Beata Elizabete da Trindade e seus escritos, fonte nas quais hauria tanta inspiração e tanta força para andar pelos caminhos de Jesus. Num momento de intensa experiência do Deus Trino, eis como Elizabete se refere ao mistério da habitação trinitária: “No seio dos Três, banhados na luz,/sob as claridades da Face de Deus/nós penetramos o segredo do Mistério/ que cada dia parece mais radiosos!/Ser infinito, profundidade insondável,/nós comungamos da tua Divindade./Ó Trindade, ó Deus, nosso Imutável,/Nós vemos a ti mesmo em tua claridade”.[3]     
c) Em busca de uma espiritualidade trinitária. Como conclusão desta nossa breve reflexão sobre o mistério da Santíssima Trindade – e infinitamente mais poderíamos escrever e falar - proponho a todos os caros leitores a busca e a experiência de uma espiritualidade trinitária que leve à comunhão entre a ação e a contemplação. De fato, não é possível uma espiritualidade que se restrinja apenas a momentos de oração como também não se pode entender uma espiritualidade que se contente com ativismo, aliás, ativismo que parece, até, uma característica de movimentos ou outras comunidades eclesiais. Talvez possa ajudar-nos na caminhada trazer para a nossa vida uma afirmação do atual Arcebispo italiano e exímio teólogo Bruno Forte: o Pai é o Silêncio (criar espaços de silêncio para ouvir); o Filho é a Palavra (anunciar Jesus e seu Evangelho) e o Espírito Santo é o Encontro (encontrar-se com a Santíssima Trindade que habita em cada filho e filha de Deus e com o mundo a ser fermentado com os valores e critérios do Evangelho).

Que Maria, a ouvinte atenta do Pai através do Anjo da Anunciação; a imaculada Mãe do Filho,  Palavra do Pai e a fiel habitação do Espírito Santo (cf.Lc 1,26-18) acompanhe os passos de todos nós na busca incansável de uma espiritualidade genuinamente trinitária!

Um abraço fraterno e carinhoso do amigo e irmão de sempre e para sempre,  



Pe.José Gilberto Beraldo
Segundo Assessor Eclesiástico Nacional - MCC do Brasil


[1] Na linguagem da teologia encontra-se o termo “in-habitação” para designar este mistério.
[2] Em “Elisabete da Trindade-Obras completas”, Ed.Vozes, Pensamentos extraídos de suas Carta (294).
[3] Id ibidem p.673 (escrita em 15 de junho de 1902).