quarta-feira, 11 de julho de 2012

Carta mensal do Pe. Beraldo, julho de 2012

Carta MCC Brasil – Julho 2012 (155ª.)
“Então (Jesus) pegou o cálice, deu graças e disse: “Recebei este cálice e fazei passar entre vós, pois eu vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus”. A seguir, tomou o pão, deu graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim”. Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós” (Lc 22,17-20).
Meus queridos irmãos e irmãs, partícipes e comensais da Palavra pela comunhão no Corpo e no Sangue de Jesus:
Nossa última Carta propôs reflexões acerca do mistério trinitário e, com isto, ocupou todo o habitual espaço de quase duas páginas. Deixamos, portanto, de tratar de outro mistério central da nossa fé, a Eucaristia, uma vez que naquele mesmo mês celebramos a desta do Corpus Christi, ou seja, do Corpo de Cristo. Vamos refletir, então, neste mês, sobre a Eucaristia na vida da Igreja e em nossa própria vida. E vamos fazê-lo orientados por dois documentos do magistério eclesiástico e que se nos apresentam como de suma importância: o Documento de Aparecida (DAp) e a Exortação Apostólica “Verbum Domini” (VD).
1. A Eucaristia no Documento de Aparecida (DAp). A Eucaristia aparece 32 vezes em todo o DAp. Trata-se, portanto, de um tema transversal, isto é, um tema que é como que um fio condutor das reflexões e propostas do documento. Sendo assim, temos que escolher apenas alguns parágrafos para nossa reflexão, deixando aos caros leitores uma “santa curiosidade” para buscar outros pontos igualmente importantes. Como motivação para leitura e reflexão, cito literalmente alguns trechos de cada parágrafo dos documentos, colocando como abertura de cada um, um título que resume o seu conteúdo principal. Assim o faço para que você mesmo, meu caro leitor, leitora, possa descobrir a riqueza nele contida.
a) A Eucaristia, “fonte e ponto mais alto da vida cristã”. “Igual às primeiras comunidades de cristãos, hoje nos reunimos assiduamente para “escutar o ensinamento dos apóstolos, viver unidos e participar do partir do pão e nas orações” (At 2,42). A Eucaristia, participação de todos no mesmo Pão de Vida e no mesmo Cálice de Salvação, faz-nos membros do mesmo Corpo (cf. 1 Cor 10,17). Ela é a fonte e o ponto mais alto da vida cristã, sua expressão mais perfeita e o alimento da vida em comunhão. A Igreja que a celebra é “casa e escola de comunhão” onde os discípulos compartilham a mesma fé, esperança e amor a serviço da missão evangelizadora” (DAp158).
b) A Eucaristia, “lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo”. “A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo. Com este Sacramento, Jesus nos atrai para si e nos faz entrar em seu dinamismo em relação a Deus e ao próximo. Há um estreito vínculo entre as três dimensões da vocação cristã: crer, celebrar e viver o mistério de Jesus Cristo, de tal modo, que a existência cristã adquira verdadeiramente uma forma eucarística. Em cada Eucaristia, os cristãos celebram e assumem o mistério pascal, participando n’Ele. Portanto, os fiéis devem viver sua fé na centralidade do mistério pascal de Cristo através da Eucaristia, de maneira que toda sua vida seja cada vez mais vida eucarística. A Eucaristia, fonte inesgotável da vocação cristã é, ao mesmo tempo, fonte inextinguível do impulso missionário. Ali, o Espírito Santo fortalece a identidade do discípulo e desperta nele a decidida vontade de anunciar com audácia aos demais o que tem escutado e vivido” (DAp251).
c) A Eucaristia, “alimento para o caminho”. “Em sua palavra e em todos os sacramentos Jesus nos oferece um alimento para o caminho. A Eucaristia é o centro vital do universo, capaz de saciar a fome de vida e de felicidade: “Aquele que come de mim, viverá” (Jo 6,57). Nesse banquete feliz participamos da vida eterna e, assim, nossa existência cotidiana se converte em uma Missa prolongada. Mas todos os dons de Deus requerem uma disposição adequada para que possam produzir frutos de mudança. Especialmente, nos exigem um espírito comunitário, que abramos os olhos para reconhecê-lo e servi-lo nos mais pobres: “No mais humilde encontramos o próprio Jesus”200. Por isso, São João Crisóstomo exortava: “Querem em verdade honrar o corpo de Cristo? Não consintam que esteja nu. Não o honrem no templo com mantos de seda enquanto fora o deixam passar frio e nudez” (DAp 354).
2. A Eucaristia na “Verbum Domini” (VD)
a) A relação essencial entre Jesus- Palavra do Pai e a Eucaristia. “Quanto foi dito de modo geral a respeito da relação entre Palavra e Sacramentos, ganha maior profundidade aplicado à celebração eucarística. Aliás, a unidade íntima entre Palavra e Eucaristia está radicada no testemunho da Escritura (cf. Jo 6; Lc 24), é atestada pelos Padres da Igreja e reafirmada pelo Concílio Vaticano II. A este propósito, pensemos no grande discurso de Jesus sobre o pão da vida na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6, 22-69.... De fato, o discurso sobre o pão evoca o dom de Deus que Moisés obteve para o seu povo com o maná no deserto, que na realidade é a Torah, a Palavra de Deus que faz viver (cf. Sl 119; Pr 9, 5). Em Si mesmo, Jesus torna realidade esta figura antiga: «O pão de Deus é o que desce do Céu e dá a vida ao mundo. (...) Eu sou o pão da vida» (Jo 6, 33.35). Aqui, «a Lei tornou-se Pessoa. Encontrando Jesus, alimentamo-nos por assim dizer do próprio Deus vivo, comemos verdadeiramente o pão do céu». No discurso de Cafarnaum, aprofunda-se o Prólogo de João: se neste o Logos de Deus Se faz carne, naquele a carne faz-Se «pão» dado para a vida do mundo (cf. Jo 6, 51), aludindo assim ao dom que Jesus fará de Si mesmo no mistério da cruz, confirmado pela afirmação acerca do seu sangue dado a «beber» (cf. Jo 6, 53). Assim, no mistério da Eucaristia, mostra-se qual é o verdadeiro maná, o verdadeiro pão do céu: é o Logos de Deus que Se fez carne, que Se entregou a Si mesmo por nós no Mistério Pascal” VD 54a).
b) No diálogo com os discípulos de Emaus, a Palavra –Jesus faz-se Eucaristia. “A narrativa de Lucas sobre os discípulos de Emaús permite-nos uma reflexão subsequente acerca do vínculo entre a escuta da Palavra e a fracção do pão (cf. L c 24, 13-35).” Jesus foi ter com eles no dia depois do sábado, escutou as expressões da sua esperança desiludida e, acompanhando-os ao longo do caminho, «explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que Lhe dizia respeito» (24, 27). Juntamente com este viajante que inesperadamente se manifesta tão familiar às suas vidas, os dois discípulos começam a ver as Escrituras de um novo modo. O que acontecera naqueles dias já não aparece como um fracasso, mas cumprimento e novo início. Todavia, mesmo estas palavras não parecem ainda suficientes para os dois discípulos. O Evangelho de Lucas diz que «abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-No» (24, 31) somente quando Jesus tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lho deu; antes, «os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem» (24, 16). A presença de Jesus, primeiro com as palavras e depois com o gesto de partir o pão, tornou possível aos discípulos reconhecê-Lo e apreciar de modo novo tudo o que tinham vivido anteriormente com Ele: «Não estava o nosso coração a arder, quando Ele nos explicava as Escrituras?» (24, 32). (VD 54)
c) A Palavra de Deus conduz necessariamente à Eucaristia. “Vê-se a partir destas narrações como a própria Escritura leva a descobrir o seu nexo indissolúvel com a Eucaristia. «Por conseguinte, deve-se ter sempre presente que a Palavra de Deus, lida e proclamada na liturgia pela Igreja, conduz, como se de alguma forma se tratasse da sua própria finalidade, ao sacrifício da aliança e ao banquete da graça, ou seja, à Eucaristia». Palavra e Eucaristia correspondem-se tão intimamente que não podem ser compreendidas uma sem a outra: a Palavra de Deus faz-Se carne, sacramentalmente, no evento eucarístico. A Eucaristia abre-nos à inteligência da Sagrada Escritura, como esta, por sua vez, ilumina e explica o Mistério eucarístico. Com efeito, sem o reconhecimento da presença real do Senhor na Eucaristia, permanece incompleta a compreensão da Escritura. Por isso, «à palavra de Deus e ao mistério eucarístico a Igreja tributou e quis e estabeleceu que, sempre e em todo o lugar, se tributasse a mesma veneração embora não o mesmo culto. Movida pelo exemplo do seu fundador, nunca cessou de celebrar o mistério pascal, reunindo-se num mesmo lugar para ler, “em todas as Escrituras, aquilo que Lhe dizia respeito” (L c 24, 27) e atualizar, com o memorial do Senhor e os sacramentos, a obra da salvação» (VD 55).
Termino desejando que meus caros leitores e leitoras possam encontrar proveito e inspiração nestes Documentos do nosso Magistério para viver cada vez mais intensamente, tanto a Palavra de Deus que a prepara como a Eucaristia que a completa no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Abraço fraterno do irmão e amigo,
Pe. José Gilberto Beraldo
Segundo Assessor Eclesiástico Nacional - MCC do Brasil